sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Crianças II.



Numa quente manhã de segunda-feira, o dia onde o cansaço abate sobre o corpo em lembrança de um fim de semana de diversão ou procrastinação, estava eu e meu tédio na parada do ônibus quando a presença de uma senhora trazendo dois miudinhos lindos me chama atenção. Estavam eles lá, alheios aos problemas do mundo e a visível irritação da senhora que os conduzia, de mãozinhas dadas, cada um com um pirulito na mão, se lambuzando e sorrindo, a senhora os guia pelas mochilinhas coloridas que eles levam nas costas e os senta ao meu lado pedindo irritadamente (e em vão) que fiquem quietos, e enquanto ela conversava com ar de preocupada um assunto qualquer ao celular os dois tagarelavam sobre a importantíssima questão de qual tinha o cachorro mais "babo".

Carro vai, carro vem, enquanto espero o demorado ônibus meu tédio se vai ao observar a doçura daqueles pequenos, em minha cabeça eu me perguntava se existe som mais lindo que voz de criança, meu sorriso já era impossível de conter perante a mágica que as crianças têm de despertar simpatia.

Em meio ao trânsito da pacata rua do bairro passa uma barulhenta moto, dessas que têm muito estampido e pouca potência, mas naquele momento contagiada por aqueles pimpolhos que a olhavam com tanta admiração e espanto, até eu acreditei que era a mais fantástica e veloz máquina que poderia haver, os dois trocaram olhares admirados e como se lessem os pensamentos um do outro o riso brotou, e um deles falou:

- Quando painho deixar eu andar na moto dele, te levo na "galupa" tá?!

O miudinho dá um pulo do banco que compartilhávamos e comemora numa vibração digna de gol em final de Copa do Mundo:

- Titia, titia, eu vô na "galupa"!

O outro levanta também e começam a pular e rir, a tia que falava ao celular não resiste, e também entra no mundo de encantamento dos pequenos sonhadores, seu sorriso também despertou, seu semblante preocupado se transformou, trocamos um olhar de cumplicidade quando ela percebeu minha atenção à cena, em um gesto singelo ela os abraçou e beijou, que continuam de mãozinhas dadas, cada um com um pirulito, se lambuzando e sorrindo.

Meu ônibus chegou, demorou, mas eu agradeço por isto, demorou o tempo que eu precisava para fazer meu dia mais doce. 

Não podemos ter todos os dias bons, mas podemos ter algo de bom no dia, todos os dias, basta reparar nos detalhes, nos pequenos e belos momentos que podem enfeitar a vida de cor e sabor.



Crianças são lindas.



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